13 de fev. de 2017

Mudar de idéia

“Triste não é mudar de ideia.
  Triste é não ter ideia para mudar.”

  (Francis Bacon)

Imagem: Gelila Metiti Mesfin


Tive uma educação muito rígida. Papai, um homem austero, conservador e inflexível, passou-me lições brilhantes, mas, ao mesmo tempo, exagerou um pouco na dose. Com o decorrer dos anos, fui descobrindo que a realidade é bem diferente de muitas coisas que me ensinaram. Aprendi que ao tomar uma decisão, esta não poderia ser mudada, pois, caso contrário, eu estaria demonstrando falta de personalidade. Foi difícil encarar que a coisa não é bem assim, aliás, não é nada assim. Tomo decisões baseadas nas minhas ideias e estas mudam dependendo do meu estado de espírito e das situações externas que se apresentam.

Como não cheguei neste mundo apenas para vegetar e dele sair sem nada ter aprendido, como posso desejar que minhas ideias sejam iguais em todos os dias de minha vida? Não, papai, o senhor não sabia que esta sua informação não era correta. Posso e dou-me o direito de mudar de ideia e voltar atrás em minhas decisões, tantas vezes quantas sentir vontade e não me sentir mal com isso, desde que essas decisões não envolvam terceiros, é óbvio. Falo das decisões que se refiram à minha própria pessoa.

Sempre é tempo de reconhecer um passo errado, dar meia volta e começar tudo de novo, por outro caminho. Sempre é tempo de não mais dar importância a alguma voz de outrora que eu tenha ouvido, e obedecido. Sempre é tempo de reconhecer que a pessoa que mais me machucava era a que mais me ensinava as lições necessárias e passar a respeitá-la ao invés de com ela ficar magoada. Sempre é tempo de não mais dar tanta importância às doces palavras que nada me acrescentavam. Sempre é tempo de me permitir não fazer algo que não tenha vontade num dia, independentemente de ter tido vontade ou não outrora.

Sem contar as coisas bem mais simples, como por exemplo: já odiei berinjela, hoje gosto muito. Já adorei música sertaneja, hoje detesto. Já detestei jazz, hoje adoro. Já gostei muito da boemia, hoje não troco o aconchego de minha cama por ela. Já acreditei que rezando, Deus ajuda, por isso, já rezei muito, mas hoje tenho certeza que a ajuda que ele poderia dar, já deu quando me enviou para cá e pronto (sei que esta afirmação pode dar muito pano para a manga, mas, perdoem-me, é a minha opinião, no momento). Já mudei tanto de opinião e de gosto, que, talvez, este “eu” que esteja aqui já não tenha mais a mesma personalidade mesmo, mas posso garantir que, graças à coragem de se abrir para novos conhecimentos e, muitas vezes, aceitá-los, é uma pessoa bem melhor do que já foi no passado.

Enfim, parafraseando Raul Seixas, "Prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo..."


Sueli Benko
(Escrito em 23/08/2008 - sem ter mudado de opinião, ainda, a respeito das palavras acima)

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2 comentários:

Elaine Barnes disse...

Verdade,já dei passos errados e voltei neles pra tentar outro rumo. Amei o texto!

Silvana Costa disse...

Muito bom!!! 👏👏👏