A semente que me trouxe foi plantada nas profundezes da
terra. Demorei a germinar e, antes de conhecer o tempo, antes de ver a luz,
antes de me vestir de cores, abri caminhos entre pedras, entre trancos e
barrancos, entre suspiros e dores.
Em meu primeiro dia de luz, havia chuva e vento, havia frio
e calor, nuvens e também lua e sol no firmamento. Conheci de tudo um pouco e fui
crescendo acanhada. Mas, muitas vezes, no entanto, fui pisada, fui ceifada. E no
decorrer da minha vida, insisti, abri alas, renasci.
Por vezes, fiquei no escuro, no centro da terra pensando, sonhando,
recuperando forças e descansando. Porém minhas raízes nunca desistiram de
seguir em frente. Suas garras abriam caminho nas profundezas da terra sem
descansar um momento, buscando vida, apoio, segurança e alimento.
Cada vez, eu renascia mais forte, até que cresci no tempo e
me espalhei na vida. E quando o vento chegava e arrancava minhas folhas, quando
alguém machucava meu caule, meus galhos e arrancava minhas flores, lá embaixo,
no entanto, estavam minhas raízes intactas, servindo de apoio, âncora e alento,
para meus tombos e meus desencantos.
Hoje, o que o mundo vê, são as minhas folhas,
meu caule, meus frutos e minhas flores,
e com isso julga ser meu juiz.
Porém, o mundo se engana, pois a mim mesmo ninguém consegue enxergar.
Não sou folha, nem flores, nem caule e nem fruto, senhores.
Sou, na verdade, apenas raiz.
e com isso julga ser meu juiz.
Porém, o mundo se engana, pois a mim mesmo ninguém consegue enxergar.
Não sou folha, nem flores, nem caule e nem fruto, senhores.
Sou, na verdade, apenas raiz.
Sueli Benko
...