Depois que aprendi a conversar com meu coração e entendê-lo, aprendi a lidar melhor com os meus sentimentos e, pasmem, descobri que não é só de felicidade que preciso. Às vezes um pouco de tristeza dá um tempero especial em minha vida. Tristeza me deixava apavorada e dela fugi durante muito tempo. De repente, percebi que ela faz parte do contexto. Não posso simplesmente ignorá-la. Tudo nesta vida tem um lado bom, por pior que pareça.
Tristeza apareceu dias atrás e resolvi recebê-la. Meu mestre havia dito para não mais fugir e procurar ouvi-la, pois geralmente ela tem alguns recadinhos para nos dar. E assim fiz. Deixei que ela descansasse um pouquinho aqui dentro, no meu coração. Ela realmente tinha alguns recadinhos para mim e eu, atentamente, ouvi. Pensei que tivesse vindo para me castigar, mas não, ela chegou para me mostrar que ainda estou viva e que não é de indiferença que vou viver o resto dos dias de minha vida. Nunca gostei de coisas muito fáceis e quando aprendi a dominar meus sentimentos, achei que tivesse descoberto a chave da felicidade. Protegia meu coração (que não queria ser protegido) de todos os sofrimentos, achando que era dona de mim (e dele). Mas, as coisas não estavam mais tão emocionantes.
Ao receber a tristeza e ouvi-la, percebi que precisava ter feito isso em tantas outras vezes que ela veio me visitar. Ela me trouxe alguns presentes e um deles foi a inspiração. Trouxe-me também a certeza de que nunca poderei conhecer a fundo a felicidade se já não tiver convivido pelo menos um pouquinho com ela (a tristeza).
Ela ainda me disse: “Não é para assustar-te que estou aqui e nem para ver-te jogada ao chão, com vontade de morrer. Muito pelo contrário, estou aqui para mostrar-te que ainda vives, que ainda és capaz de sentir, que ainda és capaz de amar.” E disse mais: “Conheça-me um pouco antes de me mandar embora e não temais, pois sabes que não tenho mais o poder de aqui ficar desde que aprendeste a me mandar embora, além disso, dou mais sabor ao seu vinho e mais vida a sua poesia... não percebeste ainda?”.
Fui dormir pensando em tudo que Dona Tristeza me falou e resolvi aproveitar ao máximo essa visita, afinal, de que forma Chico Buarque teria conseguido escrever essa música linda que estou ouvindo, se não a tivesse em sua companhia na ocasião? ...
Sueli Benko