
Alguém me pediu para escrever sobre o perdão. Não que eu me julgue alguém competente no assunto, nem tenho cátedra para isso, mas, aceitei escrever, simplesmente como alguém que já aprendeu a perdoar.
Por haver aprendido sobre o amor, por haver entendido a vida e suas manobras quando deseja nos ensinar algo, por saber que nada acontece por acaso, por acreditar que semelhante atrai semelhante e, finalmente, por ter comprovado que existe a lei da projeção*, eu não tenho dificuldade alguma para perdoar quem quer que seja. Digo mais: nem me lembro da última vez que precisei fazê-lo. Simplesmente não tenho tido motivos para ter que perdoar, porque não tenho dado mais aos outros o poder de me ferir.
Na verdade, não mais acredito que as pessoas têm o poder de nos magoar. Nós, sim, é que nos magoamos com as coisas que as pessoas fazem, pois está em nós o poder de decisão: se aceitamos a ofensa ou se simplesmente a ignoramos. Na verdade, sou da opinião que seria melhor treinarmos a não aceitar ofensas, pois teríamos muito menos, ou quase nada, a perdoar.
“Falar é fácil. Isso é muito difícil!”. Aposto que é o que todos me dirão. E eu respondo: “Realmente, é muito difícil! É óbvio que é muito difícil!”. Acontece que esta vida tem um sentido. Não estamos aqui por nada. Estamos aqui para aprender algo. A vida é como se fosse uma escola. Se algo é fácil, é porque já sabemos. Tudo o que não sabemos, é difícil, mas é difícil enquanto não aprendemos. Lembro-me de que, antes de ter minha carteira de habilitação, eu achava que dirigir um veículo seria difícil demais. Hoje, acho muito fácil. Óbvio, hoje já sei.
Não me interessa aprender coisas fáceis. Quero e devo aprender o difícil. Sei que perdoar é difícil, mas é difícil para quem ainda não sabe. Aliás, se eu não soubesse perdoar, estaria em maus lençóis, pois existe uma pessoa que fez (e faz) tantas, mas tantas coisas com as quais tanto sofri nesses últimos anos (e como sofri...!), mas nem tive necessidade de perdoar, pois por nenhum momento sequer odiei essa pessoa. Quando entendo que ela continua fazendo as mesmas coisas e que já não sofro, só posso agradecê-la, pois foi ao seu lado que aprendi a não dar o poder para os outros me fazerem sofrer. Precisei dela para aprender, pois sem alguém provocando meu sofrimento, digam-me, como eu poderia ter certeza que aprendi? A situação, hoje, é a mesma de alguns anos atrás, mas com a grande diferença: hoje não sofro. Por esta razão, tenho certeza que logo, logo, essa pessoa não fará mais parte de minha vida, pois sua missão terá terminado (ou então, continuará fazendo, mas representando um novo papel).
Se você quer aprender a perdoar, entenda que “é preciso” que alguém lhe dê motivos para que você tenha que perdoar. E o motivo é justamente uma ofensa, uma mágoa, um desacato, ... sei lá.
Está cientificamente provado que mágoa guardada gera problemas sérios para a saúde. Não para a de quem provoca a mágoa, mas sim, para a de quem a sente. Aí é que entra o amor. Amor ao próximo? Pode ser, mas somente após amar a si próprio. Amar-se é querer o seu próprio bem, acima de tudo (e de todos) e quem quer seu próprio bem, tem que aprender a trocar o ódio pelo amor.
Amar a quem não nos faz mal é muito fácil. Conseguir amar àquele que nos mostrou termos descuidado de nós mesmos, não é nada fácil, não. É muito difícil enfrentar a verdade, mas depois que aprendemos... fica fácil.
Se for verdade ou não que a falta de perdão pode provocar um câncer, como temos ouvido falar, por via das dúvidas, é melhor perdoar. E perdoar não significa concordar com o que a outra pessoa fez, mas entender que precisávamos daquilo para aprender alguma lição. Baseados nesta verdade é que existem muitos ensinamentos, especialmente os orientais, que nos ensinam a amar e agradecer aos nossos inimigos. Eles são nossos mestres , ou, pelo menos, os instrumentos de nossa maior mestre: a vida.
Outro dia, ouvi uma frase espetacular que posso adequar a este assunto: “O grande aprendizado não está nas ofensas que recebemos, mas no que aprendemos a fazer com elas”
Sueli Benko
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*lei da projeção = enxergar no outro o seu próprio defeito, espelhar-se no outro, artimanha usada pela vida para nos fazer enxergar no outro o nossos próprio defeito, já que não conseguimos olhar para nós próprios.
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(inspirado também em citações de L.A.Gasparetto)