Minha casa é como um palco, ora iluminado, ora não. Nela, muitos espetáculos já estiveram em cartaz. Alguns por muito tempo, outros em única apresentação. Geralmente participo de todos. Ora como produtora, ora como cenógrafa, figurinista, diretora ou assistente do diretor. Já fui roteirista e, confesso ter gostado muito dessa função. Mas, também por muitas e muitas vezes, fui atriz, tanto coadjuvante, como a heroína da história. Já fui a mocinha e, pasmem, também já fui a vilã. Sem contar as vezes em que fiquei na platéia, apenas assistindo ... como crítica ou mera expectadora.
Sem querer desviar do assunto principal, que é o palco, digo, a casa, expliquei tudo isso para melhor poder me fazer entender. Não querendo parodiar Silvio Caldas, mas, se "a vida é um palco iluminado...", então minha casa é minha vida. É onde nascem os meus roteiros. É onde paro, reflito e me inspiro. As paredes do meu quarto tenho-as como minhas testemunhas e quantas histórias elas têm pra contar... É lá que lavo minha alma, choro minhas perdas e também minha saudade. Mas, belas histórias de amor, certamente gostaram de testemunhar.
Gosto, de percorrer minha casa quando me encontro só; gosto de observar cada detalhe, cada quarto, cada canto. Parece que ela se alegra e demonstra de mim gostar. Sinto-me acolhida, protegida e tranquila quando estou nos braços do meu lar. Cada peça que encontro pelo caminho, traz-me uma boa recordação. Somente boa, porque o que não me lembrar de algo bom, lá dentro não deixo ficar.
Na cozinha de minha casa faço brincando aquilo que mais gosto de fazer: cozinhar. Assim como nas coisas da vida, na minha comida, adoro inventar ingredientes, escolher temperos e temperaturas (frias ou quentes). Adoro criar, copiar ou apenas imaginar. O prazer do sucesso ao sentir que acertei mais uma vez é indescritível. Minha cozinha sempre foi testemunha de momentos felizes, de realização. Talvez, seja o local onde, mais vezes, me senti realizada.
É claro que minha casa também já foi testemunha das dores do meu aprendizado, mas sempre aguentou firme e, paciente, nunca perdeu a esperança de ver meu sorriso voltar.
Um dos momentos mais felizes de todos os meus dias é aquele em que chego da rua e abro a porta do meu lar. Vejo que seu aconchego está ali me esperando e, carinhoso, parece dizer: que bom que chegou, seja muito bem vinda! Entre, descanse, estou aqui pra lhe proteger. Você nunca estará só; sou seu chão, seu teto e, ao contrário de muitos, estarei sempre aqui a lhe esperar.
Sueli Benko
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